É bom sentir-me curado. Não foi um caminho fácil nem rápido de trilhar. Por mais que eu tenha iniciado as medicações desde julho de 2024, reconhecer que eu precisava de ajuda, para além de medicações, precisou de muita força, coragem e reconhecer a minha rede de apoio.
Nestes últimos meses, senti como se eu tivesse perdendo o controle de mim mesmo: do corpo e da mente. Sentia espasmos musculares e tremedeiras, pensamentos de morte em reflexo de uma total desesperança e esgotamento. Eu, nem mesmo, tinha vontade de levantar da cama e quando eu conseguia eu tinha medo até de andar, sentindo que eu cairia.
Os fatores de risco que causam um burnout não se curam na escala individual. Se os agentes patogênicos (como bactérias ou vírus) precisam de um sistema imunológico para serem combatidos, os fatores do burnout exigem uma resposta coletiva. A empresa não é um corpo imunológico; é um ecossistema onde tais fatores podem "infectar" todos os que trabalham ali.
Várias situações ocorreram para meu adoecimento mental e tive que reestruturar o pensamento em relação a cada uma delas. E, sobretudo, compreender a situação pela qual eu passava, fazendo-me de idiota, pois, como disse Deleuze: "Fazer-se de idiota será sempre uma função da filosofia."
No meu idiotismo, me entreguei às "festas", à celebração da vida louvada pelo filósofo Byung-Chul Han:
"Talvez devêssemos reconquistar aquela divindade, aquela festividade divina, em vez de continuarmos sendo escravos do trabalho e do desempenho. Deveríamos reconhecer que hoje perdemos aquela festividade, aquele tempo de celebração na medida em que absolutizamos trabalho, desempenho e produção."
Assim, dentre todo o processo de terapia, me dediquei a aprender um instrumento novo; a me reconectar com minha musicalidade; a escutar o momento presente e celebrar, artisticamente, o existir. A música, hoje, me salva do sequestro emocional de um sistema límbico descontrolado. Estou na primeira estrofe de uma bela canção de saúde mental. Cantemos!