Com Amanda é quente a paixão
Com Demétria tudo é perdão
Márcia me leva a caminhar
Regina gosta de desafiar
Anélia só olha para si
Celeste não exige nada de mim
Com Marina a relação é madura
Mas tem uma que dispensa a procura
A meu lado Helena sempre brilhará
Com Marina sonhos a compartilhar
Celeste inspira a lhe querer bem
Anélia não quer papo com ninguém
Paquerar Regina é um jogo
As tardes com Marcia são um gozo
Demétria faz com que me sinta em casa
Amanda como sempre é amor em brasa
Quando escrevi o Orbitando Amores para o livro poETes 🔗, eu estava sob uma provocação de minha psicóloga sobre encontrar o quanto de racionalidade pode haver na arte. Então me desafiei a transformar em arte uma fórmula matemática.
Num artigo da Physics Today, entitulado Venus is not Earth's closest neighbor 🔗, é apresentado um cálculo que prova que em média, o planeta mais próximo da Terra na maior parte do tempo é Mercúrio, devido ao fato de que as órbitas não são pontos de referências estáticos, mas em constante movimento. O mesmo artigo também traz a informação de que tal raciocínio vale também para todos outros planetas do nosso sistema solar. Tornando Mercúrio o planeta mais próximo de todos os outros na maior parte do tempo. Para explicar, de forma rápida, tal cálculo, o canal CGP Grey fez uma animação 🔗 em que mostra o deus grego mercúrio entregando uma flor para um dos outros planetas e daí veio minha inspiração.
Na grécia antiga, haviam sete denominações diferentes para amor: Ágape, Eros, Philia, Storge, Philautia, Pragma e Ludus. Opa! Também são sete os planetas de que Mercúrio sempre se aproxima! Oportunidade perfeita para uma metáfora.
Lembrei que alguns deuses da antiguidade também tinham uma representação feminina ou um par feminino de características similares, pesquisei então, primeiramente, por essas representações para compor as personagens do poema. Vênus, deusa do amor, seria Amanda. Demeter, deus das plantações, representaria a Terra, portanto em versão feminina optei por Demétria. Marte, deus da guerra, seria Márcia; um tanto óbvio mas funcionaria. Júpiter, deus maior do panteão, virou Regina, rainha em latim. Saturno, planeta rodeado de anéis, seria Anélia; uma dica saliente para os leitores. Urano, deus do céu, seria portanto Celeste. Netuno, deus dos mares, combina bem com o nome Marina.
O poema também se propõe a negar o Mito do Amor Finito, isto é, a hipótese de que temos uma quantia de amor finita para doar a outras pessoas e que amando alguém não se poderia amar a outrem. Podemos amar diferentes pessoas de formas diversas e em tempos distintos. Até mesmo a forma de amar uma única pessoa é mutante durante o período da relação. Partindo dessa premissa, cada pessoa-amada no poema representa um tipo de amor que o eu-lírico cultiva em relação a ela.
Amanda é o amor Eros, o amor da paixão carnal. Demétria demonstra o amor Storge, amor familiar tal qual a relação entre genitores e filhos. Márcia é amor Philia, de amizade e fraternidade. Regina ama como Ludus, com foco no jogo da sedução e conquista. Anélia representa Philautia, o amor-próprio, porém numa visão egoísta em que ela só ama a si mesma. Celeste é Ágape, o amor incondicional análogo ao amor divino. Marina caracteriza o amor Pragma, uma forma pragmática de amar e compartilhar metas.
Falta um último corpo celeste nessa metáfora: o Sol. Como Mércurio está sempre perto do Sol independente do período de tempo decorrido, usei o Sol para representar justamente aquele relacionamento duradouro que pode assumir várias formas de amor ao longo do tempo. Como o Sol tem abundantemente em sua massa o elemento Hélio, representei portanto sua figura no nome de Helena. Também fazendo menção aos gregos para auxiliar mais ainda na compreensão da intenção da obra.
Por fim, a forma. Sendo órbitas circulares, o poema precisaria ser circular e ter um vai e volta das pessoas-amadas em relação ao eu-lírico. Com exceção de Helena que deve ficar no centro do poema. A ordem dos versos, portanto, segue a ordem de distância dos planetas para o Sol. E após falar de Helena, apresento a mesma ordem em sentido contrário.
Concluo assim minha metáfora. Um breve poema de relações não-monogâmicas inspirado numa equação astronômica.
Este poema está publicado no poETes: Altas Habilidades Com Poesia 🔗.